História
No dia 2 de Dezembro, o município de Ipiaú festeja sua emancipação política. A partir desta postagem traremos um resumo do lugar.
No inicio era a mata virgem com seus bichos e índios, estes da nação Tapuia, temíveis pela valentia. Tinha espírito guerreiro, mas não resistiram à invasão do homem branco que chegou, em maior numero, a partir do inicio do Século XX.
Os primeiros a pisarem no solo que hoje constituem as terras ipiauense foram extrativistas de óleos de madeiras e outras essenciais da mata virgem. O pesquisador Dilson Araújo, colheu junto a antigos depoentes que essas pessoas viviam em transito pela região e sendo assim a elas não pode ser atribuído o mérito de colonizadores.
O historiador Clemilton Andrade, em seu livro “Uma Vida em Várias Épocas e Lugares”, importante fonte escrita primária da História de Ipiaú nos traz ideia dos primórdios da colonização.
-As matas iam caindo, seculares jequitibás, frondosos vinháticos, jacarandás, itapicurus, enfim todas as espécies que constituem a rica flora caiam aos vigorosos golpes dos machados vibrados pelos musculosos braços dos imigrantes.
No lugar das matas surgiram então os cacauais, os cafezais e as pastagens. As ruas do lugarejo cresciam,se estiravam,novas levas de imigrantes chegavam, o comercio se expandia,negociava-se,roubava-se,brigava-se e matava-se”.
A ORGANIZAÇÃO SOCIAL
Os pioneiros que um dia chegaram não plantaram somente os cacauais, mas também a cultura, a educação, o comércio, a organização social e fundiária. Nesse time entram em campo Moysés Santos, Servolo Ornellas, Noival Suarez e Evelina Freire, dentre outros.
Noival Suarez
Filho de espanhol, negociante em Salvador, Noival Suarez, pai do ex-vereador Normando Suarêz, é outro personagem que faz parte do grupo pioneiro do município de Ipiaú. Noival exerceu a função de agrimensor.
“Os imigrantes derrubavam matas e faziam suas plantações em terrenos do Estado. Tinham porem de mandar medir as suas glebas e para isso chamavam os agrimensores, que passavam por engenheiros.
Clemilton Andrade conta que Noival era “possuidor de um espírito alegre e extrovertido, humorista nato, gargalhava e fazia gargalhar os seus interlocutores com suas tiradas espirituosas. Adquiriu uma propriedade e também plantou cacau”.
Servolo Ornellas
Por volta de 1920 o povoado já se chamava Rio Novo, nome que segundo a historiadora Sandra Regina Mendes só foi adotado oficialmente, dez anos depois, na ocasião da elevação à categoria de sub-prefeitura.
Foi nessa época que chegou por estas plagas um individuo irrequieto chamado Servolo Ornelas, proveniente de Santo Antônio de Jesus. Este homem tinha um prelo manual com o qual compunha e imprimia o jornal “O Democrata”, de conteúdo noticioso, humorístico e político.
Clemilton Andrade traça assim o tipo físico de Servolo:-Homem de estatura alta, magro, nervoso, sorrisos e voz estridentes, os dois caninos superiores desmedidamente grandes, recobertos de ouro, faiscavam quando esganiçava a boca com seu alto e largo sorriso”.
Além da imprensa Servolo Ornelas em sociedade com Avelino Melo implantou em Rio Novo o trafego postal, isto é, o correio. “Lá por volta de 1922 (conta Clemilton Andrade), foi criada a Agência Postal, sendo essa repartição entregue a Servolo que instalara em sua própria residência e a dirigira como agente até 1936, passando a tesoureiro da referida agencia, já então postal telegráfica”.
Servolo era avô do ex-senador e ministro da Previdência Social, Waldeck Ornelas.
Evelina Freire
A primeira escola pública estadual de Rio Novo foi instalada no ano de 1923 e teve como regente a professora Evelina Freire.
A principio essa escola funcionou na principal sala da residência de Moysés Santos depois foi transferida para uma casa isolada, em um pasto, entre a propriedade dos árabes (nas imediações da atual agencia do Banco do Brasil) e a parte principal do lugarejo. A professora Evelina lecionou até o ano de 1952, quando se aposentou.
A FORMAÇÃO DA CIDADE
A historiadora Sandra Regina cita que “o antigo arraial, situado às margens do rio de Contas, possuía uma posição geográfica privilegiada e por isso, também foi conhecido como Encruzilhada do Sul , uma alusão à convergência de caminhos que ligavam a Camamu, Jequié e Boa Nova”.A localidade também foi denominada de Fuá.
A denominação Fuá refere-se a uma área nas imediações da atual rua Olavo Bilac, onde verificava-se cenas de desordens decorrentes da jogatina,prostituição e consumo de bebidas alcoólicas.
O local também era conhecido como “Quebra-Viola”e “Empata-Viagem”.
“O incipiente lugarejo não contava então com mais de 20 casas de construção primitiva, de taipa e cobertura de palhas de ouricuri e pindoba, algumas melhores eram de adobes cobertas de telhas.
No núcleo central, apenas três ruas estreitas e duas praças poirentas no estio, alagadiças nas épocas de chuva,assaz,quase ininterruptas.
O povoado ocupava então uma estreita faixa de terra situada entre dois rios: o Rio de Contas e o Rio Água Branca. Por tal localização sofrera as conseqüências das cheias, das quais a mais famosa foi a ocorrida no ano de 1914”. Narra Clemilton Andrade.
“Na parte de cima do arraial’, nas imediações do local onde hoje se encontra instalado o prédio do Escritório da CEPLAC havia um curral de matança de gado bovino, dando assim origem à Rua do Curral”. (Conta Sandra Regina).
A CORRUPTELA DEIXOU UMA MARCA
No ano de 1916 o lugarejo que veio a se tornar na cidade de Ipiaú foi elevado à condição de Distrito de Paz e recebeu o nome oficial de Alfredo Martins, em homenagem ao presidente da Câmara Legislativa de Camamu.
A partir de então teve inicio a instalação de repartições públicas, sendo um delas a Escrivaninha de Paz, a qual foi confiada ao cidadão Moysés Ferreira dos Santos que antes residia em Camamu.
Clemilton Andrade descreve Moysés Santos desta maneira: – Individuo de estrutura alta, bem nutrido, alegre, simpático. Dada a representação do seu cargo (o mais elevado da época) Moysés tornara-se por muitos anos a principal figura do lugarejo”.
O Juízo de Paz foi entregue ao cidadão Avelino Rocha Galvão de Melo que antes exercia as funções de médico charlatão.
As pessoas incultas não acertavam pronunciar a palavra repartição quando se refeririam às instalações da administração de Camamu e diziam “rapatição”.
A corruptela contribuiu para que o lugar fosse assim chamado por alguns e e entrasse na historia como uma das denominações do antigo distrito.
Também é necessário desmistificar que o nome Rapatição decorreu de uma briga de tição entre duas mulheres.
Segundo um antigo pesquisador da historia ipiaúense, o italiano José Miraglia contava que “uma noite, na rua da “Quarana” (atual Rua Nações Unidas) alguns moleques jogaram pequenas pedras por entre as pernas de uma prostituta meio louca que morava ali e que, de cócoras em frente à fogueira, de pernas abertas, deixava visível sua vagina.
Os moleques acabaram por atingi-la, ao que “Cantide” se enfureceu, pegou um dos tições da fogueira e saiu em perseguição dos rapazes. Na corrida, “Cantide” arrastava o tição, que espalhava brasas para todos os lados.
Disseram que ela estava raspando o tição, cuja corruptela resultou em Rapatição.
OS FUNDADORES DA CIDADE
Os árabes (Marons, Midlejs e Atalas) e aos italianos (Grissis e Miraglia) foram os primeiros a se fixarem na localidade que hoje constitui a cidade de Ipiaú. Isso ocorreu por volta de 1916, conforme registro do historiador Clemilton Andrade.
Ele explica que depois chegaram Domingos Castro, proveniente de Muritiba, e José Bento, os quais ocuparam as extremidades do povoado ,estabelecendo-se com fazendas para o sul.
Logo após a propriedade de Domingos Castro (no inicio da atual Avenida São Salvador) estabeleceram-se o José Gomes e José Brandão. Um pouco mais adiante rio abaixo, fixaram-se os irmãos Hohlemwerger: João e Durval, de origem suíça.
Para a parte de cima, logo após a propriedade dos árabes e italianos que ocupavam a região onde hoje é o centro da cidade, estabeleceram-se José Bento, Manoel Pedro, Leandro, Epifânio Vieira e já 9 km rio de Contas acima instalara-se Artur Duarte.
Esses homens derrubaram matas, construíram casas, instalaram estabelecimentos comerciais, promoveram o crescimento do povoado.
Não é verdadeira a informação de que Raimundo Crente tenha sido fundador de Ipiaú. Ele apenas transitava pela região.
Por José Américo Castro